quinta-feira, 29 de maio de 2008

A morte do Silas. Que efeito!!!

















O irmão Silas faleceu.


Hoje fazem sete dias que fomos ao enterro do amigo Silas.
Conheci o Silas há aproximadamente uns quinze anos.
Aquela pessoa pacata, com semblante calmo e aparência de ter mais idade do que realmente possuía, mas ele era o Silas.
Nunca pensei que fosse algum dia relatar algo sobre aquele homem, que muitas vezes, muitos de nós, que o conhecíamos, o julgávamos por ter deixado a família noutro estado, separado da esposa e deixado dois filhos pra trás, principalmente porque a filha mais velha do casal se encontra na classe dos chamados “especiais”.
O cara conviveu conosco todos esses anos e sempre que podíamos e lembrávamos, o julgávamos, (claro que não falávamos, era só em pensamento) por ser do jeito que ele era. Ele não se preocupava nem mesmo com o que ele ia comer no almoço, muito menos no jantar (diga-se de passagem, pois sua irmã com a qual ele morava, não costumava jantar e conseqüentemente, não fazia o jantar).
Durante anos ficava por ali, fazendo seu trabalho de servente de pedreiro,e sequer se preocupava para passar de servente a pedreiro oficial. Passava o seu tempo, quando não aparecia serviço, sentado do outro lado da calçada, conversando com os amigos. Realmente, depois de sua morte eu passei a acreditar que ele tinha amigos e se as pessoas com quem ele se relacionava, não o consideravam amigo, posso crer que mesmo assim; ele se considerava amigo dos outros. Passava pra lá e pra cá no interior da igreja (onde ele morava), falava com todas as pessoas e até brincava. Uns até o chamavam de “César Maia’ (aquele político, sabem...) e até que eles se pareciam um pouco. Algumas vezes tive a oportunidade de presenciar o Silas zangado, às vezes, por que as coisas não estavam bem, talvez por falta de dinheiro, mesmo assim, ele não falava o porquê, era só dele aquela situação, ou então, quando realmente o via enfurecido, com semblante muito zangado, eu até podia acertar na mosca que ele e a irmã haviam brigado. Apesar da idade dos dois, pareciam dois adolescentes brigando e discutindo, coisas às vezes até sem sentido, só por brigar. Tive a oportunidade de ajudá-los algumas vezes a fazer as pazes, eu até me divertia, por que sabia que era isso que eles estavam querendo, embora zangados não podiam ficar um sem o outro. Sua irmã realmente é meio ranzinza, tem suas manias e ele por sua vez não tinha mania nenhuma, tudo pra ele estava bom. Realmente ela tinha que ficar irritada. Ela é uma pessoa totalmente organizada, com tudo e principalmente com dinheiro. Nunca vi alguém viver tão bem com tão pouco e até sobrar seu pagamento no final do mês. Esse era um dos motivos que os faziam entrar em atrito, mas também se fosse diferente, talvez fosse ruim pra eles. Deixa-me voltar pro texto original , afinal , não estou escrevendo pra falar da irmã, e sim do Silas.
Nesse domingo, dia 18 de maio, dia de culto de adoração, cheguei por volta das 19h na igreja e fui abordado por uma irmã que me perguntou: já soube do Silas? E eu respondi não, o que aconteceu?
Ela respondeu, a Silvia está com ele no pronto socorro desde às três horas da tarde, parece que teve “derrame”. Fiquei assustado. Esta irmã, por saber que minha família é muito amiga da Silvia, se preocupou em me falar, pois sabia que eu iria dar o apoio que fosse preciso. Imediatamente fui à casa dela e então havia acabado de chegar. Ela me relatou o fato e disse que logo iria voltar ao hospital, só tinha vindo tomar um banho e pegar algumas roupas para o irmão vitimado. Prontamente eu me ofereci pra levá-la de volta ao hospital e pude realmente constatar aquela pessoa sentada totalmente desconfortável em uma cadeira de rodas comum, em uso de uma sonda nasogástrica e uma sonda vesical,(procedimento de praxe)e sequer tinha uma maca no hospital,já dantes, dito lotado. Colocamos juntos, eu e suas outras irmãs que já se encontravam no hospital o Silas na cadeira da melhor maneira possível, então quando senti a sua perna direita solta em minhas mãos, pude perceber uma paralisia parcial, do lado direito, pois não mexia nada daquele lado. Apesar de toda experiência que tenho com pacientes críticos ao longo de dezesseis anos de profissão, não quis acreditar que o nosso amigo pudesse vir a óbito tão rápido, embora o hospital não estivesse oferecendo qualquer condição para tratar este tipo de paciente. Voltei ao culto, pois já estava no término e então o pastor José Carlos pediu à igreja pra levantar um clamor em prol do restabelecimento do Silas, pois sabíamos que era grave a situação e só Deus poderia intervir. Após a oração, pude observar que o pastor disse sua última frase enquanto orava, "que seja feita a vontade de Deus“. Terminado o culto e por volta das 23h recebi um telefonema informando que o nosso amigo/irmão havia ido a óbito. Não entendi naquele momento o que senti, só sei que quando dei a notícia à minha esposa e ela foi pro quarto e falou pra minha filha, que logo em seguida começou a chorar, entendi menos ainda, pois minha filha que nunca tinha presenciado um enterro, relatou que gostava dele e que queria ir ao funeral. No dia seguinte fomos à cerimônia fúnebre e encontramos muitos que conviveram com ele assim como eu, chorando literalmente durante a cerimônia. Um fato que muito me impressionou na cerimônia foi de os pastores estarem ali presentes, os quatro: Pr Lúcio, Luiz Antonio, Luciano e por final o Pr. Walkimar que estava dirigindo a cerimônia. Todos os que passaram ali e o conheceram, fizeram algumas colocações a seu respeito, e muito embora o Silas não tivesse sido membro da igreja e nem mesmo um convertido a olhos dos evangélicos, suas preleções foram verbalizadas como se o fosse, inclusive posso lembrar bem a colocação do Pr. Luiz Antonio, que veio de Cabo Frio-RJ. Disse ele:”O Silas sempre nos olhou com olhos de amigo. Uma amizade verdadeira, nunca fez qualquer colocação a nosso respeito de forma negativa e embora as suas limitações, assim como todos nós a temos, se portou durante todos os anos que convivi com ele, como um verdadeiro irmão, irmão este que quero acreditar que neste momento está nos braços de Deus “. Deus seja louvado pela vida do Silas enquanto esteve aqui e abençoe a todos os presentes”. Desde o enterro do Silas parei um pouco mais pra refletir sobre algumas coisas que quero compartilhar e edificar tantos outros assim como eu. Nunca parei pra pensar como uma pessoa, principalmente, aquela que com seus limites e seus erros puderam causar tanto efeito positivo a alguém. Deus em sua infinita sabedoria usa de todos os seus artifícios pra ganhar alguém pra si e talvez, enquanto estávamos julgando o irmão por ter deixado pra trás os filhos, poderíamos hoje pensar que os filhos estavam bem cuidados, mesmo sem a presença do pai, mas com certeza Deus já havia providenciado algo que fosse melhor pra eles. E mesmo assim quem somos? Somos todos iguais, com erros diferentes. Todos erramos, todos acertamos. Precisamos parar de julgar e aprender que coisas mínimas nos levam a perder muitas situações grandes, que poderiam nos fazer crescer sempre. A morte dele com certeza não era o que queríamos, fomos pegos de surpresa, mas de alguma forma serviu pra nos alertar que não precisamos ter muitas coisas pra fazer efeito nessa vida, pois é simples seguir a regra e viver em paz com simplicidade e principalmente amor verdadeiro. Fica uma pergunta no meu coração: Que efeito tenho causado enquanto vivo? Efeito positivo ou negativo? Passei a partir de hoje, a me preocupar mais com isso, a querer fazer o melhor e se não puder ajudar, não vou atrapalhar e muito menos julgar pra não ser julgado.Usarei palavras com menos teor de preconceito ou preconceito nenhum. Não sei quanto tempo vou viver, mas quero melhorar a cada dia sem fazer questão de coisas mínimas. Quero lembrar a cada dia que “Deus é excelso, contudo, atenta para os humildes; os soberbos, ele os conhece de longe” Sl 138:6

25/05/2008
Jozivaldo Silva